sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Haikais /Haigas..


No galho da figueira
beija-flor adormecido-

Manhã garoenta.


Manhã de sol-

Entre os espinhos e as flores

suave colibri.


Beija-flor confuso-

Nas queimadas do cerrado

ainda há flores?


Chuva copiosa-

Descendo pela sarjeta

as nuvens de há pouco.


Na areia molhada

caminhamos eu e a lua-

Praia de verão.


No vento da tarde-

a pipa do guri

e o chapéu do ancião.


Sol de inverno-

O velho troca a janela

pelo fogão a lenha.


Céu encoberto-

Os fogos de São João

estrelas desta noite.


Madrugada fria-

Aquece os pés do mendigo

o cão vira-lata.


Meias desfiadas-

Sob a marquise gelada

é luxo só.


Poça de inverno-

Na pedra atirada

a lua quebrada.


Templo na montanha-

a voz suave da monja

como a neve que cai.

 


















Banco da praça-

Dorme tranquilo o mendigo

Coberto de luar.

 

No pouso da garça

o cansaço da viagem-

lago refrescante.

 

Meus cabelos brancos-

Foi a noite quem roubou

o seu negrume.

 

Poça de verão-

Na pedra atirada

a lua quebrada.

 

 Antiga  Remington-

Ainda catando milho

Espalho haicais.

 







sábado, 29 de dezembro de 2018

Haibum I


Maria-sem-vergonha

Conhecida também pelos nomes de beijinho, avenca, venca, vinca, beijo-turco e maria-sem-vergonha, no Brasil, e alegria-do-lar, em Portugal.
É uma espécie nativa do leste da África, na região da Quênia e de Moçambique. É uma planta herbácea perene que cresce de 15 a 60 centímetros de altura, com grandes folhas lanceoladas de 3 a 12 cm de comprimento e 2 a 5 cm de largura. As folhas são alternadas na maior parte, embora possam ser opostas perto do topo da planta. As flores possuem cinco pétalas e podem ser das mais diversas cores. (Wikipédia)
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Diz  uma antiga história que essas flores foram trazidas  ao Brasil pelos escravos. O curioso é que as sementes vinham nas rachaduras dos pés dos negros escravos que  ao caminharem pelas brenhas até o seu destino  semearam-nas sem saber! Com o tempo elas foram se ramificando por quase todos os lugares do nosso país. (JAL)




Vindo lá da África
As Marias-sem-vergonha-
Livres pelas serras.


29/12/2018 – JAL®

Haicais IV




No ombro do soldado
A flor do ipê-amarelo
Faz dele um cabo.


Antes de varrer
Gari contempla a calçada-
Flores de ipê-branco.


Velha azaleia-
Em seus galhos retorcidos
Ainda as floradas.


No vento vernal
Voam grous e borboletas-
Festa de origami.


Chapinhando a água-
O vento de primavera

Brincando com a lua.
         

Set. 2019 - nikkei


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Noite de ano novo-
A lua também é nova,
Nas mãos, novas rugas.


Dia de ano novo-
A metrópole parada
Lembra o interior.


Dia de ano novo-
Primeiros raios de sol
Sobre a velha igreja.


De JAL® - dez. 2018



Fiel companhia-
de Cerquilho a São Paulo
a lua de outono.


Vista de Cerquilho
Muito mais bela ainda
A lua de outono.


Antes de varrer
Gari contempla a calçada-
Ipê amarelo.


Que privilégio-
Galhos de ipê amarelo
Próximo à janela.


Maio/2018









sexta-feira, 16 de junho de 2017

Haikais III









Estrela cadente
Caiu bem no meu jardim-
Queria ser jasmim!



Estrela cadente-
Como se a vida passasse
Na tela do céu



Estrela cadente-
Já não tenho mais vaidades
Só contemplação.



<><><2018><><>






 A elástica rã
Também faz a sua ginástica
Logo de manhã.














O Mandorová-
Um vaso que caminha
Levando suas plantinhas.















Descanso da lida_
No galho seco a libélula
Faz pausa também.


























Fim da cerração-
Vê-se novamente a serra
A cascata seca.












Depois da poda
A jaqueira se derrama
Em chorosos visgos.


A Lua cheia
Cabe exato no aro
Dos meus óculos.




Dama da noite
Exalando o perfume
De dama da noite.


Mesmo desnudada
Continua Gueixa
A formosa Gueixa.


Haicai
meu Bonsai
poético.


Chuva de verão
Descendo pela sarjeta-
Outra viagem.


Noite de luar-
Caminhamos eu e a lua
Juntos pela estrada.



Ao olhar no espelho
repuxo as minhas rugas_
Ah! meus vinte anos.

鏡を見るとき
私はしわを犯す
ああ! 私の20代 ]


Na tarde já finda
Um sabiá me surpreende_
Retorno à janela.

[ 午後はもう終わった
賢い人が私を驚かせる

ウィンドウに戻ります]



Nov. - 2017







terça-feira, 13 de junho de 2017

Haikais II




O jardim da Senhora Yume



     Antes, ninguém morava por aqui.
      Hoje, esta cabana vive sempre alegre, embora seja uma construção simples e humilde.
   O senhor Kensuke e a senhora Yume vivem felizes tirando da terra, o que a terra lhes devolve, graças ao trabalho dedicado e árduo dos dois.
     A senhora Yume, Yume; que em japonês significa - sonhadora, conserva seus dotes de haijin, coisa que vem desde criança.
     No pequeno jardim cultivado em frente à casa, nota-se pequenas tabuletas entre os canteiros floridos onde se lêm alguns de seus haicais:





Ontem, feias lagartas-                                      Fim do vendaval-
Hoje, lindas borboletas                                    A touceira de capim
Sobre este jardim.                                           Ainda  curvada.

                     

Momento azul-                                               Nuvens coloridas-
O céu e estas borboletas                                 As flores deste jardim
Sobre as hortênsias.                                       Refletidas no céu.














                                       



Procurando a bola_
Abóbora de pescoço
Que ninguém plantou.


Brinco-de-princesa
Ornando os cabelos toscos
Da mulher que esmola.


Aroma de vinho-
Uvaias esborrachadas
No  chão do vizinho.


Flores de papel-
Sobre a paineira desnuda
Pipas enroscadas.


O galho no rio-
Por um brevíssimo  tempo
Descanso da flor.



















Será  meu senhor
Saindo do  velho tanque,
A  rã de Bashô.?


Entrada do templo-
Alameda de azaléias
Dando-nos boas vindas.


Término da feira-
Mendigo se lambuzando
Com fruta-do-conde.    



Geada no campo
Com olor de primavera-
Cafezal em flor.


Solidão-
Na estação abandonada
Só o tempo passa.


Num açucareiro-
Formiguinhas  escalando
Doces  Himalaias.

Fim da chuvarada-
O silêncio dura pouco.
Grilo na sacada.


Na rajada fria
Voam grous e borboletas-
Festa  de  origamis.


Chafariz da praça-
Crianças se refrescando
No xixi dos anjos.


Vidraça  embaçada-
O menino limpa o céu
E surgem as estrelas.