sexta-feira, 16 de junho de 2017

Haikais III









Estrela cadente
Caiu bem no meu jardim-
Queria ser jasmim!



Estrela cadente-
Como se a vida passasse
Na tela do céu



Estrela cadente-
Já não tenho mais vaidades
Só contemplação.



<><><2018><><>






 A elástica rã
Também faz a sua ginástica
Logo de manhã.














O Mandorová-
Um vaso que caminha
Levando suas plantinhas.















Descanso da lida_
No galho seco a libélula
Faz pausa também.


























Fim da cerração-
Vê-se novamente a serra
A cascata seca.












Depois da poda
A jaqueira se derrama
Em chorosos visgos.


A Lua cheia
Cabe exato no aro
Dos meus óculos.




Dama da noite
Exalando o perfume
De dama da noite.


Mesmo desnudada
Continua Gueixa
A formosa Gueixa.


Haicai
meu Bonsai
poético.


Chuva de verão
Descendo pela sarjeta-
Outra viagem.


Noite de luar-
Caminhamos eu e a lua
Juntos pela estrada.



Ao olhar no espelho
repuxo as minhas rugas_
Ah! meus vinte anos.

鏡を見るとき
私はしわを犯す
ああ! 私の20代 ]


Na tarde já finda
Um sabiá me surpreende_
Retorno à janela.

[ 午後はもう終わった
賢い人が私を驚かせる

ウィンドウに戻ります]



Nov. - 2017







terça-feira, 13 de junho de 2017

Haikais II




O jardim da Senhora Yume



     Antes, ninguém morava por aqui.
      Hoje, esta cabana vive sempre alegre, embora seja uma construção simples e humilde.
   O senhor Kensuke e a senhora Yume vivem felizes tirando da terra, o que a terra lhes devolve, graças ao trabalho dedicado e árduo dos dois.
     A senhora Yume, Yume; que em japonês significa - sonhadora, conserva seus dotes de haijin, coisa que vem desde criança.
     No pequeno jardim cultivado em frente à casa, nota-se pequenas tabuletas entre os canteiros floridos onde se lêm alguns de seus haicais:





Ontem, feias lagartas-                                      Fim do vendaval-
Hoje, lindas borboletas                                    A touceira de capim
Sobre este jardim.                                           Ainda  curvada.

                     

Momento azul-                                               Nuvens coloridas-
O céu e estas borboletas                                 As flores deste jardim
Sobre as hortênsias.                                       Refletidas no céu.














                                       



Procurando a bola_
Abóbora de pescoço
Que ninguém plantou.


Brinco-de-princesa
Ornando os cabelos toscos
Da mulher que esmola.


Aroma de vinho-
Uvaias esborrachadas
No  chão do vizinho.


Flores de papel-
Sobre a paineira desnuda
Pipas enroscadas.


O galho no rio-
Por um brevíssimo  tempo
Descanso da flor.



















Será  meu senhor
Saindo do  velho tanque,
A  rã de Bashô.?


Entrada do templo-
Alameda de azaléias
Dando-nos boas vindas.


Término da feira-
Mendigo se lambuzando
Com fruta-do-conde.    



Geada no campo
Com olor de primavera-
Cafezal em flor.


Solidão-
Na estação abandonada
Só o tempo passa.


Num açucareiro-
Formiguinhas  escalando
Doces  Himalaias.

Fim da chuvarada-
O silêncio dura pouco.
Grilo na sacada.


Na rajada fria
Voam grous e borboletas-
Festa  de  origamis.


Chafariz da praça-
Crianças se refrescando
No xixi dos anjos.


Vidraça  embaçada-
O menino limpa o céu
E surgem as estrelas.






















sábado, 10 de junho de 2017

Tankas - II / Amorosas...



                                                             (foto google)



Um desejo forte
Vibra aqui dentro de mim.
Ingrata é a vida-
          Não podendo estar contigo
          Te espero nos meus sonhos.

A rajada forte
Pôs no chão todas as flores.
Beija-flor não veio.
          Meu amor nunca mais veio
          A flor da paixão murchou.

Penso aqui comigo
Que nada é mais silencioso
Que a névoa caindo
          Que a boca de quem morreu
          E a ausência do meu amado.

Com tinta prateada
A lesma deixou seu nome
Na folha da begônia.
          A assinatura da ausência
          Foi você quem deixou.

Vento minuano
Arrepia o corpo nu
Do lago que dorme.
          Também assim teus lábios
          Quando tocam meus seios.

Dia friorento-
Um portãozinho rangendo
No vento lá fora.
          Trancado chora calado
          Um coração aqui dentro.



    
   















Nesta noite fria

a neve se agarra aos galhos

e eu às cobertas

          Já o meu coração solito

          Se agarra à saudade dele.




















(desenho Shunga - Google)



Venha desnudar-me
Venha sem nenhum pudor
É teu o jardim.
          
          Cor-de-rosa e perfumada
     
          Floresce lá uma orquídea.
          

        






 De José Alberto Lopes®
junho/2017


sexta-feira, 9 de junho de 2017

Tankas - I





















                                                                  (foto google)





Vagalumeando
A várzea toda parece
um céu estrelado.
                  O sapo espreita o jantar
                    e o menino colhe astros.




                 














Longe vai o dia-
Como ficam alongadas
as noites de inverno.
                   Lá se vão os pescadores.
                   Cada vez mais longe os peixes.



Janela do trem-
A aldeia ficou para trás
meu amor também.
                   Mas, duas coisas me seguem.
                   O perfume dela e a lua.



Cruzando o canal
segue lento o Ferry-boat-
Meu amor me espera.
                   Antes de a barca atracar
                   já estou nos braços dela.



Nesta noite fria
a neve se agarra aos galhos
e eu às cobertas.
                   Já o meu coração solito
                   se agarra à saudade dela.



Fim da tempestade-
A pipa presa no fio
agora despida.
                   Balança o seu esqueleto
                   sem o afeto do menino.



Amanhece o dia-
o gramado do jardim
igual meus cabelos.
                   A vila  parece inóspita.
                   Geou nesta madrugada.



Domingo de Ramos-
Entre palmas e alecrins
um congraçamento.
                   Até o bebê de colo
                   acena com um raminho.



Ao me barbear
o espelho reflete um rosto
muito familiar.
                  Alguém que partiu há muito.
                  O rosto do meu pai.



Boneco de vento
no posto de gasolina-
assusta a menina.
                  Mas o que assusta o seu pai
                  é o preço do combustível.



A ventania
repentinamente leva
uma poesia.
                   Com a janela escancarada
                   uma poetisa escrevia.



Pendão solitário-
Em pleno vento de inverno
a dança do capim.
                   um homem entre as mulheres
                   Junto às flores do jardim.




Brinco-de-princesa-
Uma tiara de flores
Ainda orvalhada.
                    Ornaria teus cabelos
                    se  tu fosses  minha amada.


Ah! bicho-da-seda
Peço-te agora perdão
pelo teu fim trágico.
                 Mas a seda que teci
                 Tingirei de primavera.


Noites de verão-
No ar um cheiro de murta
Longe, um cão latindo.
                Tudo lembrando meu velho
                Debruçado na janela.


Sobem os salmões-
É tempo da desova
Derradeiros dias.
           Desce o velho à sepultura.
           Jornada também finita.


1º de maio-
No madeirame da fábrica
Trabalha a andorinha-
           Cata aqui, cata acolá
           E o seu ninho vai formando.


Em meio às roupas
Estendidas no varal
Boneca de pano.
           Nem a esfrega e o sabão
           Tiram lembranças passadas.

Na tardinha quente
Luta inglória contra o vidro
Moscas na janela.
           Quem está fora quer entrar
           Quem está dentro quer sair.

Um som de lamento
Ecoa em meio a neblina-
Um carro de boi
           Pisoteando o mesmo sulco
           Entoando o mesmo canto.


Noite congelante-
Ao mijar, tremendo susto
Quase não encontro
          Aquele bom penico
          Que esquecera onde guardei.



De José Alberto Lopes®
jun.2017














sábado, 11 de março de 2017

Haikais I












(Haicai  estilo Guilhermino)

Um céu de alcatrão-
Da serra um cheiro de terra,
Chuva de verão.


Chuva na roseira-
A flor tirada na véspera
Murchando no vaso.


Jabuticabeira-
Mil olhos arregalados
Olhando pra  mim.


Vento de verão-
As folhas da bananeira
Agora no avesso.


noite enluarada-
sobre o capim ressecado,
brilham os melões!



Ah! Terra natal
Nenhum amigo de infância
Só o noroeste!

(Aqui, depois de muitos anos, o poeta visita a sua terra natal-Cubatão. Lá não encontra nenhum amigo de infância, a não ser o vento noroeste. Vezeiro quase o ano inteiro, esse, também seu companheiro nos folguedos infantis.)
                      

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O Samurai e a cerejeira






                                                             

       O Samurai saiu para a luta. Sua inseparável espada feita do melhor aço, seu preparo e o destemor, eram as únicas coisas que o acompanhavam.
       Era primavera, e no seu caminho deparou-se com uma velha e enorme Sakura (Cerejeira) que era escorada por grossos madeiros. Mesmo assim ela derramava-se em flores, muitas flores.   Atraído, sentou-se sobre os  artelhos da árvore, e ficou a contemplar aquela  imensa beleza.
       Por um momento esqueceu-se que era um Samurai. E adormeceu....
       Quando acordou, viu-se quase sepultado pelas  flores que desaguavam com  o vento. Rapidamente voltou à realidade. Era um   Samurai, um dos melhores. Levantou-se, fez uma reverência à velha árvore e seguiu seu caminho.
       Porém, antes de partir escreveu com um fino graveto sobre a lama firme esse haicai:
                                 
velha cerejeira-
apoiada por escoras
igual meu avô.
                           

                            Tão efêmera quanto às flores da cerejeira, era a vida de um Samurai. Mas vemos aqui também a antítese, ou seja: esta árvore  tão admirável pode durar séculos...
No Japão há um dito muito antigo que diz: “O Samurai é o homem entre os homens e a Cerejeira é a flor entre as flores.”

José Alberto Lopes.®
Outubro de 2010
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Zinco furado_
O céu enluarado imita
O chão do meu rancho.


Capim gordurão_
Minhas botas engraxadas
Sem gastar um níquel.


Descanso da lida_
No galho seco a libélula
Faz pausa também.


Apenas as varas
Fincadas na beira d’água-
Pescando com chuva.


Pausa do Trator-
O som da mata de novo
Limpo, sem fumaça.  


















Chapinhando a água-
O vento da madrugada
Brincando co’a lua.
























Velas arriadas-
No silêncio do cais
O vento também dorme.


Velha cerejeira-
Amparada com escoras
igual meu avô.


Na rajada quente
Voam grous e borboletas-
Festa de origamis.