sábado, 11 de março de 2017

Haikais I












(Haicai  estilo Guilhermino)

Um céu de alcatrão-
Da serra um cheiro de terra,
Chuva de verão.


Chuva na roseira-
A flor tirada na véspera
Murchando no vaso.


Jabuticabeira-
Mil olhos arregalados
Olhando pra  mim.


Vento de verão-
As folhas da bananeira
Agora no avesso.


noite enluarada-
sobre o capim ressecado,
brilham os melões!



Ah! Terra natal
Nenhum amigo de infância
Só o noroeste!

(Aqui, depois de muitos anos, o poeta visita a sua terra natal-Cubatão. Lá não encontra nenhum amigo de infância, a não ser o vento noroeste. Vezeiro quase o ano inteiro, esse, também seu companheiro nos folguedos infantis.)
                      

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O Samurai e a cerejeira






                                                             

       O Samurai saiu para a luta. Sua inseparável espada feita do melhor aço, seu preparo e o destemor, eram as únicas coisas que o acompanhavam.
       Era primavera, e no seu caminho deparou-se com uma velha e enorme Sakura (Cerejeira) que era escorada por grossos madeiros. Mesmo assim ela derramava-se em flores, muitas flores.   Atraído, sentou-se sobre os  artelhos da árvore, e ficou a contemplar aquela  imensa beleza.
       Por um momento esqueceu-se que era um Samurai. E adormeceu....
       Quando acordou, viu-se quase sepultado pelas  flores que desaguavam com  o vento. Rapidamente voltou à realidade. Era um   Samurai, um dos melhores. Levantou-se, fez uma reverência à velha árvore e seguiu seu caminho.
       Porém, antes de partir escreveu com um fino graveto sobre a lama firme esse haicai:
                                 
velha cerejeira-
apoiada por escoras
igual meu avô.
                           

                            Tão efêmera quanto às flores da cerejeira, era a vida de um Samurai. Mas vemos aqui também a antítese, ou seja: esta árvore  tão admirável pode durar séculos...
No Japão há um dito muito antigo que diz: “O Samurai é o homem entre os homens e a Cerejeira é a flor entre as flores.”

José Alberto Lopes.®
Outubro de 2010
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Zinco furado_
O céu enluarado imita
O chão do meu rancho.


Capim gordurão_
Minhas botas engraxadas
Sem gastar um níquel.


Descanso da lida_
No galho seco a libélula
Faz pausa também.


Apenas as varas
Fincadas na beira d’água-
Pescando com chuva.


Pausa do Trator-
O som da mata de novo
Limpo, sem fumaça.  


















Chapinhando a água-
O vento da madrugada
Brincando co’a lua.
























Velas arriadas-
No silêncio do cais
O vento também dorme.


Velha cerejeira-
Amparada com escoras
igual meu avô.


Na rajada quente
Voam grous e borboletas-
Festa de origamis.