(Haicai
estilo Guilhermino)
Um céu de alcatrão-
Da serra um cheiro de terra,
Chuva de verão.
Chuva na roseira-
A flor tirada na véspera
Murchando no vaso.
Jabuticabeira-
Mil olhos arregalados
Olhando pra
mim.
Vento
de verão-
As
folhas da bananeira
Agora
no avesso.
noite
enluarada-
sobre
o capim ressecado,
brilham
os melões!
Ah!
Terra natal
Nenhum
amigo de infância
Só
o noroeste!
(Aqui,
depois de muitos anos, o poeta visita a sua terra natal-Cubatão. Lá não
encontra nenhum amigo de infância, a não ser o vento noroeste. Vezeiro quase o
ano inteiro, esse, também seu companheiro nos folguedos infantis.)
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O Samurai e a cerejeira
O Samurai saiu para a luta. Sua inseparável espada feita do melhor aço, seu preparo e o destemor, eram as únicas coisas que o acompanhavam.
Era primavera, e no seu caminho deparou-se com uma velha e enorme Sakura (Cerejeira) que era escorada por grossos madeiros. Mesmo assim ela derramava-se em flores, muitas flores. Atraído, sentou-se sobre os artelhos da árvore, e ficou a contemplar aquela imensa beleza.
Por um momento esqueceu-se que era um Samurai. E adormeceu....
Quando acordou, viu-se quase sepultado pelas flores que desaguavam com o vento. Rapidamente voltou à realidade. Era um Samurai, um dos melhores. Levantou-se, fez uma reverência à velha árvore e seguiu seu caminho.
Porém, antes de partir escreveu com um fino graveto sobre a lama firme esse haicai:
velha cerejeira-
apoiada por escoras
igual meu avô.
apoiada por escoras
igual meu avô.
Tão efêmera quanto às flores da cerejeira, era a vida de um Samurai. Mas vemos aqui também a antítese, ou seja: esta árvore tão admirável pode durar séculos...
No Japão há um dito muito antigo que diz: “O Samurai é o homem entre os homens e a Cerejeira é a flor entre as flores.”
José Alberto Lopes.®
Outubro de 2010
Zinco furado_
O
céu enluarado imita
O
chão do meu rancho.
Capim
gordurão_
Minhas
botas engraxadas
Sem
gastar um níquel.
Descanso
da lida_
No
galho seco a libélula
Faz
pausa também.
Apenas
as varas
Fincadas
na beira d’água-
Pescando
com chuva.
Pausa
do Trator-
O
som da mata de novo
Limpo, sem fumaça.
O
vento da madrugada
Brincando
co’a lua.
Velas
arriadas-
No
silêncio do cais
O
vento também dorme.
Velha
cerejeira-
Amparada
com escoras
igual
meu avô.
Na
rajada quente
Voam
grous e borboletas-
Festa
de origamis.