sábado, 10 de junho de 2017

Tankas - II / Amorosas...



                                                             (foto google)



Um desejo forte
Vibra aqui dentro de mim.
Ingrata é a vida-
          Não podendo estar contigo
          Te espero nos meus sonhos.

A rajada forte
Pôs no chão todas as flores.
Beija-flor não veio.
          Meu amor nunca mais veio
          A flor da paixão murchou.

Penso aqui comigo
Que nada é mais silencioso
Que a névoa caindo
          Que a boca de quem morreu
          E a ausência do meu amado.

Com tinta prateada
A lesma deixou seu nome
Na folha da begônia.
          A assinatura da ausência
          Foi você quem deixou.

Vento minuano
Arrepia o corpo nu
Do lago que dorme.
          Também assim teus lábios
          Quando tocam meus seios.

Dia friorento-
Um portãozinho rangendo
No vento lá fora.
          Trancado chora calado
          Um coração aqui dentro.



    
   















Nesta noite fria

a neve se agarra aos galhos

e eu às cobertas

          Já o meu coração solito

          Se agarra à saudade dele.




















(desenho Shunga - Google)



Venha desnudar-me
Venha sem nenhum pudor
É teu o jardim.
          
          Cor-de-rosa e perfumada
     
          Floresce lá uma orquídea.
          

        






 De José Alberto Lopes®
junho/2017


sexta-feira, 9 de junho de 2017

Tankas - I





















                                                                  (foto google)





Vagalumeando
A várzea toda parece
um céu estrelado.
                  O sapo espreita o jantar
                    e o menino colhe astros.




                 














Longe vai o dia-
Como ficam alongadas
as noites de inverno.
                   Lá se vão os pescadores.
                   Cada vez mais longe os peixes.



Janela do trem-
A aldeia ficou para trás
meu amor também.
                   Mas, duas coisas me seguem.
                   O perfume dela e a lua.



Cruzando o canal
segue lento o Ferry-boat-
Meu amor me espera.
                   Antes de a barca atracar
                   já estou nos braços dela.



Nesta noite fria
a neve se agarra aos galhos
e eu às cobertas.
                   Já o meu coração solito
                   se agarra à saudade dela.



Fim da tempestade-
A pipa presa no fio
agora despida.
                   Balança o seu esqueleto
                   sem o afeto do menino.



Amanhece o dia-
o gramado do jardim
igual meus cabelos.
                   A vila  parece inóspita.
                   Geou nesta madrugada.



Domingo de Ramos-
Entre palmas e alecrins
um congraçamento.
                   Até o bebê de colo
                   acena com um raminho.



Ao me barbear
o espelho reflete um rosto
muito familiar.
                  Alguém que partiu há muito.
                  O rosto do meu pai.



Boneco de vento
no posto de gasolina-
assusta a menina.
                  Mas o que assusta o seu pai
                  é o preço do combustível.



A ventania
repentinamente leva
uma poesia.
                   Com a janela escancarada
                   uma poetisa escrevia.



Pendão solitário-
Em pleno vento de inverno
a dança do capim.
                   um homem entre as mulheres
                   Junto às flores do jardim.




Brinco-de-princesa-
Uma tiara de flores
Ainda orvalhada.
                    Ornaria teus cabelos
                    se  tu fosses  minha amada.


Ah! bicho-da-seda
Peço-te agora perdão
pelo teu fim trágico.
                 Mas a seda que teci
                 Tingirei de primavera.


Noites de verão-
No ar um cheiro de murta
Longe, um cão latindo.
                Tudo lembrando meu velho
                Debruçado na janela.


Sobem os salmões-
É tempo da desova
Derradeiros dias.
           Desce o velho à sepultura.
           Jornada também finita.


1º de maio-
No madeirame da fábrica
Trabalha a andorinha-
           Cata aqui, cata acolá
           E o seu ninho vai formando.


Em meio às roupas
Estendidas no varal
Boneca de pano.
           Nem a esfrega e o sabão
           Tiram lembranças passadas.

Na tardinha quente
Luta inglória contra o vidro
Moscas na janela.
           Quem está fora quer entrar
           Quem está dentro quer sair.

Um som de lamento
Ecoa em meio a neblina-
Um carro de boi
           Pisoteando o mesmo sulco
           Entoando o mesmo canto.


Noite congelante-
Ao mijar, tremendo susto
Quase não encontro
          Aquele bom penico
          Que esquecera onde guardei.



De José Alberto Lopes®
jun.2017